domingo, 29 de agosto de 2010

Capítulo IV / Uma Nova Realidade Surgindo



Sai da analise pensativa. Falar de meus pais me desgastou muito... não imaginava o quanto era difícil tocar em certos assuntos. Na verdade fazer um paralelo do passado com o presente me fez pensar. E agora? O que eu vou fazer de minha vida? Pensei em jogar tudo para o alto, trabalho, família e namorado, principalmente ele. O que está mais difícil de aceitar é o fato de que  o Remo é um dos maiores problemas que tenho nesse momento! Nossa! Porque simplesmente não me livro dele?  Só pode ser o fato de ter sentimentos por ele, só pode ser...que saco...é uma droga mesmo...tá tudo ruim, mas não consigo me livrar desse relacionamento!
Quando relatei a história dos meus pais, me assustei um pouco quando percebi o quanto me pareço com a minha mãe.Embora eu seja diferente dela em alguns aspectos, mas na questão do relacionamento afetivo-sexual sou igual a ela! Tenho a mesma passividade! Que horror!
Adoro a minha mãe, aprendi e ainda continuo aprendendo muito com ela. Meiga, está sempre pronta a ajudar e abrir mão de seu tempo para satisfazer a todos. Até o presente momento não imaginava que determinados comportamentos fossem tão nocivos assim. Mas quando refletir, na analise, o quanto ela negou a sua própria vida, aí a ficha caiu! Até aí eu jamais poderia imaginar que fosse ruim....ela simplesmente não sabe disso...mas eu sei,o que faço com toda essa descoberta?
Meu pai! Esse sim é complicado falar! Me lembro das vezes em que chorava escondido por conta de suas grosserias e arrogância. Não importava quem estivesse perto, eu passava a maior vergonha. Ele sempre foi ignorante  e  ficava com medo dele  me bater... pois ele não tinha hora e nem lugar. Quando eu não fazia o que ele queria simplesmente me humilhava na frente de qualquer um.
Teve uma vez que eu estava n a frente de casa conversando com uma amiga da escola e mais um rapaz colega dela, eu estava paquerando ele. Acho que eu estava com uns quatorze anos. Eu pensava que ele, meu pai, estivesse dormindo  naquele momento. Que nada! O coroa tava lá...na janela...só expiando! Aí to eu lá em altas conversas, conhecendo o rapaz e já pensando em marcar um encontro...derrepente ouço aquele berro aterrorizante: July, sua largada! Entra! Ta de safadeza aí? Entra e manda esses dois aí, embora!
Quando eu me lembro disso, ainda hoje, me dar um frio na barriga e minhas pernas ficam bambas...que vergonha que passei. O rapaz deu no pé, não consegui mais falar com ele. Ele simplesmente fugia de mim!
Foi muito ruim passar por isso. Claro que foram inúmeras coisas que meu pai me fez passar, foram muitas vergonhas e abusos. Mas no momento me lembrei desse episódio...
Tá uma mistura de sentimentos.Ódio, raiva, medo...carinho, respeito...não sei o que sentir... acredito que seja o efeito da analise...estou arrumando as minhas gavetas internas...tem muita coisa para colocar em ordem., muitas coisas para serem limpas e outras jogadas foras. Sei que será uma caminhada de novas descobertas e que me levará a uma nova realidade! Eu vou conseguir! Eu quero ser uma pessoa realizada!
Eu vou conseguir!

Capítulo III / A Analise


                                                                 Uma nova percepção

-Foi difícil chegar até aqui....soube do seu trabalho. Já há muito tempo pretendia te procurar, me falaram que a sua especialidade envolvia casos como o meu...o que dificultou marcar uma consulta foi o fato de achar que as coisas poderiam se resolver por si só...mas o tempo passou e demonstrou ao contrário do que eu pensava...preciso de sua ajuda!(July)
Meu nome é July, sou de uma família tradicional, meus pais são casados a quarenta anos e mesmo em tantos atritos, estão juntos até hoje. Minha mãe é dona de casa, vive para a família e está sempre promovendo o bem-estar de todos. Meu pai é fechado, não tem muito diálogo, só consegue se expressar quando vai dar ordens de como ele quer que as coisas sejam e caso não seja ouvido e atendido, vira a casa de pernas pro ar, até que tudo esteje como ele quer.
Estou um pouco angustiada, as coisas estão difíceis para mim...tenho vontade de acabar com a minha vida...estou hoje num relacionamento que me faz sentir a pior pessoa do mundo...me perdi nisso tudo, não sei mais quem sou...ele está lá com os amigos...rindo, brincando, trabalhando, enfim... vivendo. Estou em pânico...quero desistir de viver...eu o amo muito e não te-lo ou até mesmo pensar na hipótese de perde-lo me aterroriza, se ele me deixar eu morro!(July)
-É...July, está em apuros! Bonita, inteligente, jovem, teve uma criação onde pode adquirir valores que contribuíram para se tornar uma pessoa reconhecida profissionalmente, consegue desenvolver boas relações interpessoais, mas tem muitas dificuldades em ser feliz como mulher. A área afetiva-sexual tem sido um tormento em sua vida. July não consegue vencer sozinha os conflitos que a mantém sobre uma opressão e se sente encurralada, a ponto de apenas visualizar a morte como sendo o único recurso disponível para solucionar a sua angustia.
- É...July! Temos muito que fazer! (analista)

Mas se pararmos para pensar e levar em conta o que pode está ocorrendo com July, vamos nos ver em algum momento nessa personagem. Aí vem a pergunta: O que leva uma pessoa como July a viver uma história tão dolorosa? Afinal...o que levou July viver tudo isso?

Vamos pensar no seguinte:
Tentar empregar o mesmo modelo de relacionamento, ao qual July teve como referencial em toda a sua vida, em seu momento atual é uma grande armadilha do destino...todos nós de alguma maneira caímos nessa mesma armadilha!
O namorado de July é um homem autoritário e vaidoso. É como ela mesmo relatou na sua análise, seu pai tem essas mesmas características: autoritário, uma pessoa de difícil acesso emocional...e quando não era atendido como queria...humilhava e se vingava. Sua mãe era submissa a ponto de atender todas as necessidades de seu pai para manter o ambiente sobre controle.
July nasceu acreditando que se fizesse como a sua mãe fez uma vida inteira...teria êxito no seu relacionamento e por conta disso, atraiu um homem com os mesmos defeitos de caráter do seu pai...a cabeça de July deu um nó. Na verdade ela não tinha idéia que eles (pai e namorado) se pareciam tanto e nem tão pouco que reagia como a sua mãe.
Em uma análise e outra, July deixou bem claro que seu namorado a humilhava e a diminuía quando ela não fazia as coisas conforme ele queria:
- Nossa...teve um dia que ele foi me buscar no serviço.Eu estava ainda concluindo um relatório que precisava ser entregue ainda naquela tarde... ele primeiro telefonou e disse que estava a caminho...expliquei que não poderia sair enquanto não terminasse o relatório...mas mesmo assim ele insistiu...disse que estava com muitas saudades, desejando está ao meu lado...ele já tinha feito toda a programação da forma como ele queria...e tinha que ser assim...ao chegar, percebeu que mesmo com toda a sedução não tinha sido atendido...começou a falar alto e dizer coisas muito ruins, que me deixaram muito envergonhada perante aos meus colegas de trabalho...me chamou de ridícula, incapaz...que eu não prestava para nada....e essas situações se repetiam várias vezes (inclusive com relação ao sexo). Resumindo...eu acabei acreditando que era tudo de ruim conforme ele sempre falou...(July)

O primeiro passo para a recuperação de July é o fato de ela aceitar que na tentativa de obter a felicidade acabou adquirindo muitos problemas...e o pior deles é a perda da sua identidade, seu individualismo, o seu ser, sua essência...ela precisava ser educada emocionalmente...obter uma nova programação, conceitos, valores para poder encontrar o seu próprio modelo de felicidade e não viver baseada no modelo de felicidade de seus pais.
A questão não é quem está certo ou  errado, para os pais de July viverem daquela maneira, durante quarenta anos, havia um acordo, ambos, provavelmente, entendiam que tudo estava bom, aceitável e talvez confortável dessa forma.Claro que essa bagagem para July era desconfortável, afinal July é uma mulher independente, conseguiu avançar numa outra realidade (externa) oposta de sua mãe. Mas os valores adquiridos pelas experiências de convivência familiar de seus pais a conduziram a um caminho em que  pôde avançar e poder com isso, enxergar novas realidades (mesmo que não tivesse consciência).Por isso a causa de tanto sofrimento nessa área, quando July tentou repetir os mesmos padrões de comportamentos adquiridos a partir de suas experiências  e referenciais familiares se viu perdida. Agora é o momento certo, mesmo dentro de tantos sentimentos confusos...encontrar o seu próprio caminho...o seu próprio modelo de felicidade. A recuperação de July é um processo que envolve tempo...um dia de cada vez...será que depois de descobrir o seu verdadeiro modelo de felicidade ela estará disposta a continuar com seu atual namorado? Será que ela vai se permanecer nesse relacionamento aprendendo a se dar com todas essas tendências padronizadas de comportamentos te avançará para algo novo?