domingo, 9 de outubro de 2011

Capítulo IX/Manter um Relacionamento... ainda é um Desafio!



Não importa quanto tempo de recuperação eu tenha, o desafio ainda continua. Ainda me percebo tendo pensamentos e sentimentos que podem me levar a ter atitudes agressivas e insanas. A questão não está no tempo de analise que faço e nem tão pouco no quanto tenho me empenhado nas programações que me são sugeridas, mas sim na profundidade de minha dor emocional. Entendo que ninguém é responsável pelo que passei e pelos abusos causados  pelas insanidades de meus pais, mas acabo cobrando de quem não tem nada a ver com a situação, o pagamento daquilo que me fizeram.
As lembranças do passado, os estresses e o barulho interno ainda são presentes. Claro que melhorou bastante, hoje eu não preciso paralisar a minha vida por conta disso. Não preciso ficar isolada com medo de tudo e de todos por conta do ferimento causado na minha infância. Antes, ao menor sinal de semelhança de algum fato que me lembrasse o passado ou que trouxesse qualquer sentimento vinculado a esse passado, eu simplesmente me fechava e só Deus sabia quando eu iria retomar a minha sanidade. A questão é: qualquer pessoa próxima que me acionasse qualquer estresse do passado, simplesmente eu me afastava e era como se essa pessoa nunca tivesse tido nenhuma participação na minha vida. Eu deletava e pronto, só para não reviver nada que pudesse trazer aquela dor original.
Meus pais sempre foram pessoas difíceis. Melhor dizendo: ignorantes. Pessoas sem menor senso de valor emocional, eram ótimos em manter a casa, estimular nos estudos, valores que promovem a questão material. Mas em compensação a parte emocional ficava num nível muito baixo, eu não me lembro de nenhum gesto de carinho físico como: beijos, abraços...que tivesse praticado com meus pais. Hoje quem faz esse movimento de afeto sou eu, até mesmo por conta de ter descoberto através da recuperação emocional o lema: QUE COMECE POR MIM!  Pois, passei a aceitar que se eu esperasse deles essa atitude iria esperar até a milésima geração...rsrsrs...é...tem situação que não devo esperar nenhuma iniciativa do outro pois tá arriscado morrer e não ver nenhuma mudança ou atitude. E lembrando o seguinte: dá um trabalho danado tudo isso, é uma perda de energia...é desgastante...outra coisa que aprendi e pratico sempre que preciso: que sou uma pessoa em recuperação de minha energia, força, alegria e esperança. E que está a minha disposição sempre e que é a centelha de Deus em minha vida. É a certeza de que mereço viver o melhor, quando, com perseverança e gentileza, continuo  em minha caminhada de recuperação emocional, apenas preciso ter calma em todo o processo, principalmente quando me vejo ainda com muitas questões que tentam me paralisar.
Como estava dissendo, meus pais eram muito bons em promover necessidades materiais, mas na parte emocional eram pessoas de difícil acesso. Carinho, atenção...eram nulos, ou melhor desnecessário, já que  se tinha o básico para a sobrevivência...isso na cabeça deles...meu pai era grosseirão, só me fazia passar vergonha...minha mãe também...tinha até vergonha de receber meus amiguinhos em casa, pois já desde muito nova já percebia a anormalidade de comportamento em minha casa. Eu via outras realidades, era pequena, mas já percebia as diferenças. A maneira como os pais dos meus amiguinhos tratavam eles, deixava bem claro que faltava muita coisa, e eu ficava envergonhada por isso. As vezes eu mentia, fantasiava que meu pai era um grande pai e que era uma pessoa influente e que minha mãe era meiga, uma mulher vaidosa...só para suprir a minha carência e muito dos meus amigos sabiam que eu estava mentindo, mas havia algo mágico nisso tudo...mesmo eles sabendo de alguma forma compartilhavam comigo a minha dor...só fazendo de conta de acreditavam, afinal seria muito cansativo para eles ficar debatendo comigo o tempo todo, então eu mentia e eles fingiam que acreditavam...graças a Deus...pois foi uma forma de eu sobreviver a um ambiente tão hostil.
As vezes me sobrevem alguns lembranças como quando íamos no supermercado e sempre era um estresse pois, meu pai fazia o maior escândalo, era o momento que ele mais hostilizava a minha mãe...fala alto, discutia na fila do caixa, reclamava dos preços, nossa que horror...e eu naquele meio e ninguém me perguntava se eu queria passar por aquilo, entendo que esse é um dos maiores abusos que uma criança pode viver quando se tem pais insanos, pois ele não paravam  para pensar de como vamos nos sentir nesses momentos, é como se eu não existisse apenas a insanidade deles. Minha mãe era uma passiva, uma burra mesmo...tão burra que deixava aquele coisa nojenta fazer com ela tudo isso e muito mais. É tão profundo que até hoje tenho repúdio a essas questões, e é aonde vejo que preciso ter paciência comigo e saber que feridas profundas levam um bom tempo para serem recuperadas...graças a Deus pela recuperação...hoje ao menor sinal de estresse faço uma retirada da situação e procuro um movimento confortável para meus sentimentos, mesmo que seja esperar o momento mais adequado para fazer o que pretendo e o melhor, sem estresse...graças a Deus.
 O meu relacionamento com Remo se mantém, até mesmo por conta de saber hoje assumir responsabilidades com meus próprios sentimentos e saber também o que é concernente ao nosso relacionamento e o que faz parte de feridas do passado. E isso me trouxe equilíbrio no sentido de não lançar para ele o que não o pertence e podermos alimentar o melhor em nossa relação. De alguma forma ele percebe o movimento de quando é preciso refletir o passado no presente precisa está em recuperação para não cobrar indevidamente de quem não tem nada a ver com o problema. Remo eu amo você!